Há um homem imaginário agora na rua, não tem feição e o corpo se espalha em peças de roupa sobrepostas escondendo um corpo cansado. Canso-me e olho.

O pintor Schute é pouco conhecido, provavelmente alemão, esteve no Brasil e fez o retrato de uma cachoeira com nome de tabelião (Paulo Afonso); o pintor não é esse homem imaginário, embora sua escolha por forrar a queda d´água com pulsantes gêiseres o revele: um alemão provável, imaginativo e tenro.

Pergunto se os retratos podem escavar túneis suficientemente ramificados a ponto de sustentar a enorme galeria do que se retrata. Recolhe para adormecer no âmago (sentido bruto) ou desinfla o ritmo sanfonado do ringue, cada golpe um impulso?

O homem imaginário, ao contrário do retrato de Schute (ninguém o retratou), não tem uma paleta definida. Ele se insinua não ao abismo colossal das águas românticas, suas margens calam em dança e graça, quer saber pouco, de tudo um mínimo particular: o átomo envolve o cisco, por exemplo.

Bastava dizer: “o retrato congela o átomo” e isto poderia acabar. Verdade dada, falta o gole do círculo parado na convergência do copo, ele não sai, pode torcer, deixar virado um tempo, martelar: não cai, não vou cair. A continuar procuro outros retratos, Schutes imaginários.

Descubro sem querer um pintor uruguaio perdido na fila dos que desejam ver. Ao lado desta há outra fila, a dos que desejam só passar. Quase ninguém fala o idioma local e um jovem escandaliza “os europeus!”. São oito faces, máscaras fincadas em pequenos suportes (metade) ou são o próprio suporte de si mesmas, madeira boa de fazer carranca (outra metade). A caixa de vidro invólucro das máscaras-carrancas tem nas extremidades duas fotos parecidas, mas não iguais: (1) pb, uma bailarina se contorcendo, jogo de luz e sombra (2) as máscaras-carrancas, desta vez fotografadas dentro da foto. Percebo que todas as pinturas têm seu jogo de luz e sombra, até as coloridas e principalmente elas. Uma delas não se rende, atravessa a linha segura entre o verde e o vermelho; é fina e o objeto, falso.

O homem imaginário, que não é Schute, pode ser este que se ergue pela escada reclinada contra o poste e troca a imensidão de cabos por outros, meiões e mãos esticados, deixando as respostas dentro de uma maleta que leva consigo para um lugar onde as maletas são guardadas, em armários frios, de metal, bem fechados.

do retrato